JANEIRO- Férias com a família, em casa, conversando,
ouvindo música, simplesmente feliz, sem nenhum sintoma. Parei de tomar a
medicação, pois vivia feliz, me sentia curada definitivamente: BURRICE!! De uma
hora para outra CRISE, quebrei objetos, chamaram ambulância, gritei, chamaram
polícia, não veio, acho que desmaiaria de vergonha, fui levada ao hospital,
fugi de lá, andei quilômetros pela noite afora de camiseta, shorts e chinelo,
sem documentos, sem dinheiro, sem telefone, sem ter para onde ir.
Encontraram-me, me levaram para casa, fiz uma mala e fui para a Ilha do Mel,
onde passei três dias sozinha, só falando com meu psicólogo por mensagens de
celular. Voltei e fui dormir na sala.
ABRIL – Recebi uma carta do governo dizendo que estava
abaixando mais ainda o meu salário. No dia 09/04/2013, escrevi disparates pela rede social
para todos que me ofenderam, quebrei meu violão, raspei os meus cabelos e tentei
suicídio cortando os pulsos sem sucesso. Fiquei internada três dias em pronto
socorro e 18 em Hospital Psiquiátrico.
Até novembro levei aquela vida inútil
dos outros anos, totalmente anti-social, totalmente indiferente a qualquer
coisa, robotizada pelos remédios, apavorada com o telefone ou a campainha,
apenas contando com o meu computador como amigo em 90% do tempo em que ficava
acordada. Apática em relação à limpeza da casa e à higiene pessoal. Uns dias
melhores, outros piores. O meu único prazer era o trabalho com a página do
facebook; difundir esta porcaria toda que até agora nem eu acredito que existe,
para os meus colegas. Dei entrevista para um jornal escrito e logo veio o
convite para a televisão. Qual minha surpresa quando me pediram encarecidamente
para eu não dar a entrevista para não expor mais ainda a família. Ou seja, eu
carregava a bandeira e a doença sozinha. Eu estava ATRAPALHANDO o bom andamento
da casa, com meu comportamento diferente do resto do mundo. Só descobri que não
tinha o apoio incondicional e a compreensão acadêmico-científica após quase
quatro anos da doença e estudos repartidos em relação à mesma.
Fiz de conta que concordei, esperei
todos saírem na manhã seguinte, quebrei vários objetos, tomei banho de
coca-cola, fechei todas as frestas que pudessem receber ar, liguei todas as
bocas e o forno do fogão e fiquei ali respirando o gás. Para minha surpresa, ao
invés de acordar no inferno, acordei dentro de uma ambulância com os
paramédicos dizendo, enquanto me furavam o dedo: ela faz estas coisas para
chamar a atenção do marido. Depois me deixaram em uma sala do Hospital 24 horas
da Prefeitura, sentada em uma cadeira, com o pijama todo manchado de coca-cola,
em meio a pacientes que tomavam soro, faziam inalação e esperavam alguma coisa.
Com certeza não era ala psiquiátrica. Fiquei encolhida na cadeira embrulhada em
um cobertor que achei por ali por muitas horas e ninguém veio falar comigo, me
examinar ou fazer qualquer procedimento. Soube depois que só estava esperando
uma ambulância para me transferir para um hospital psiquiátrico. Meu marido
teimava em me levar ele mesmo, e eu cada vez mais irritada, cidadã sabedora dos
meus direitos e querendo exigi-los a qualquer preço, só sairia dali com o carro
que o povo pagou para eu usar. Ele então, já no desespero de tanto esperar,
chamou sua irmã para tentar me convencer. CRISE!!! Gritei, corri para o
banheiro, sentei no chão em um cantinho e aí sim, todos perceberam a minha
presença, surgiram enfermeiras de todos os tipos para assistir a cena, chamaram
um guarda municipal para me conter, e o coitado, me vendo naqueles trajes, fora
da ala psiquiátrica deve ter pensado qualquer coisa, menos que eu era uma
paciente em crise, pois me levantou de uma só vez, me deu uma chave de braço (só
eu e os bandidos que aparecem no programa do Datena sabemos o quanto isso dói)
e foi me arrastando na frente de inúmeras pessoas, e eu gritando de dor e de indignação
total e absoluta: EU NÃO SOU BANDIDA, EU SOU PROFESSORA! O guardinha, surdo ao
meu apelo, me enfiou dentro de um quarto e me empurrou brutalmente para uma
cama, hora em que eu bati meu joelho que ficou roxo por dias, bem como meu
pulso ficou com a marca do seu dedo. Estarrecida eu fui amarrada na cama de
ferro pelos pés e pernas, método há muito tempo abolido pela medicina.
Aplicaram-me uma injeção de placebo provavelmente, pois não fez efeito nenhum,
ainda estou esperando as cópias dos prontuários para saber o que foi.
E ali fiquei chorando como uma
criança, chamando minha mãe. Três horas me debatendo, tentando escapar das
amarras, e a ambulância chegou. Foram trinta dias de internamento desta vez.
Saí às vésperas do Natal. Separei-me após 26 anos de casamento e agora espero
poder reescrever minha vida com tudo que aprendi neste ingrato ano de 2013.
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