sábado, 12 de abril de 2014

Depressão é um luto por si mesmo em vida.

Por Marla de Queiroz ( www.facebook.com/Marla.de.Queiroz)

Depressão não é tristeza, melancolia, desânimo, mal-estar. É tudo isso junto e uma profunda dor causada pela falta de perspectiva de que algo de bom vai acontecer e melhorar nossas vidas. Depressão é mais comum do que se imagina e tem tratamento. Não adianta dizer a um deprimido para reagir, sair da cama, sair das drogas, fazer algo para se sentir feliz. Estas pessoas precisam de ajuda profissional e, se possível, espiritual para controlar este processo de faltas: de hormônios que provocam prazer e tornam a vida produtiva e sociável, de uma sensação de amparo e proteção espiritual.
Eu tenho depressão desde criança. Ela é controlada porque busquei ajuda em todos os campos disponíveis e hoje convivo com ela de maneira amistosa: tenho uma vida produtiva, feliz, incomum, mas normal. Eu tenho ajuda espiritual, profissional e tenho a arte. Eu tenho amigos que me percebem porque me amam. Eu perdi amigos para a depressão. Eu perdi uma irmã também. Tenho perdido leitores. O índice de suicídio me assusta, mas me é altamente compreensível, pois, às vezes, nem a família sabe identificar ou lidar com esta doença. A gente não fica deprimido porque terminou um namoro: a gente fica triste. A gente não fica deprimido porque perdeu um emprego: a gente fica preocupado ou desorientado. A gente fica deprimido por uma profunda sensação de inadequação ao mundo, uma sensação de que não participamos ou pertencemos a nada. Certos fatores são apenas desencadeadores de uma dor muito mais grave: a existencial.
Vejo pessoas que estão tristes dizerem-se deprimidas e vice-versa. É preciso identificar e dar o nome certo a cada coisa. O fato de confundirmos estes sentimentos causa certa banalização da depressão. Vejo pessoas precisarem de ajuda urgente e darem cabo à própria vida porque ninguém as olhou atentamente a tempo de lhes oferecer uma ajuda adequada. Depressão é um luto por si mesmo em vida.
Enfim, este texto é apenas um pedido para que estejam atentos aos amigos, familiares, ao Outro com mais amorosidade e interesse profundo. Às vezes, identificada a doença, um deprimido não vai segurar na sua mão e caminhar até um profissional com você, talvez seja preciso que por um momento você o carregue no colo até que ele possa caminhar sozinho novamente. A questão é: quanto lhe custa a vida de alguém que você tem apreço?

terça-feira, 1 de abril de 2014

RETROSPECTIVA 2013 – O ano em que eu não morri duas vezes.


JANEIRO- Férias com a família, em casa, conversando, ouvindo música, simplesmente feliz, sem nenhum sintoma. Parei de tomar a medicação, pois vivia feliz, me sentia curada definitivamente: BURRICE!! De uma hora para outra CRISE, quebrei objetos, chamaram ambulância, gritei, chamaram polícia, não veio, acho que desmaiaria de vergonha, fui levada ao hospital, fugi de lá, andei quilômetros pela noite afora de camiseta, shorts e chinelo, sem documentos, sem dinheiro, sem telefone, sem ter para onde ir. Encontraram-me, me levaram para casa, fiz uma mala e fui para a Ilha do Mel, onde passei três dias sozinha, só falando com meu psicólogo por mensagens de celular. Voltei e fui dormir na sala.
ABRIL – Recebi uma carta do governo dizendo que estava abaixando mais ainda o meu salário.  No dia 09/04/2013, escrevi disparates pela rede social para todos que me ofenderam, quebrei meu violão, raspei os meus cabelos e tentei suicídio cortando os pulsos sem sucesso. Fiquei internada três dias em pronto socorro e 18 em Hospital Psiquiátrico.
Até novembro levei aquela vida inútil dos outros anos, totalmente anti-social, totalmente indiferente a qualquer coisa, robotizada pelos remédios, apavorada com o telefone ou a campainha, apenas contando com o meu computador como amigo em 90% do tempo em que ficava acordada. Apática em relação à limpeza da casa e à higiene pessoal. Uns dias melhores, outros piores. O meu único prazer era o trabalho com a página do facebook; difundir esta porcaria toda que até agora nem eu acredito que existe, para os meus colegas. Dei entrevista para um jornal escrito e logo veio o convite para a televisão. Qual minha surpresa quando me pediram encarecidamente para eu não dar a entrevista para não expor mais ainda a família. Ou seja, eu carregava a bandeira e a doença sozinha. Eu estava ATRAPALHANDO o bom andamento da casa, com meu comportamento diferente do resto do mundo. Só descobri que não tinha o apoio incondicional e a compreensão acadêmico-científica após quase quatro anos da doença e estudos repartidos em relação à mesma.
Fiz de conta que concordei, esperei todos saírem na manhã seguinte, quebrei vários objetos, tomei banho de coca-cola, fechei todas as frestas que pudessem receber ar, liguei todas as bocas e o forno do fogão e fiquei ali respirando o gás. Para minha surpresa, ao invés de acordar no inferno, acordei dentro de uma ambulância com os paramédicos dizendo, enquanto me furavam o dedo: ela faz estas coisas para chamar a atenção do marido. Depois me deixaram em uma sala do Hospital 24 horas da Prefeitura, sentada em uma cadeira, com o pijama todo manchado de coca-cola, em meio a pacientes que tomavam soro, faziam inalação e esperavam alguma coisa. Com certeza não era ala psiquiátrica. Fiquei encolhida na cadeira embrulhada em um cobertor que achei por ali por muitas horas e ninguém veio falar comigo, me examinar ou fazer qualquer procedimento. Soube depois que só estava esperando uma ambulância para me transferir para um hospital psiquiátrico. Meu marido teimava em me levar ele mesmo, e eu cada vez mais irritada, cidadã sabedora dos meus direitos e querendo exigi-los a qualquer preço, só sairia dali com o carro que o povo pagou para eu usar. Ele então, já no desespero de tanto esperar, chamou sua irmã para tentar me convencer. CRISE!!! Gritei, corri para o banheiro, sentei no chão em um cantinho e aí sim, todos perceberam a minha presença, surgiram enfermeiras de todos os tipos para assistir a cena, chamaram um guarda municipal para me conter, e o coitado, me vendo naqueles trajes, fora da ala psiquiátrica deve ter pensado qualquer coisa, menos que eu era uma paciente em crise, pois me levantou de uma só vez, me deu uma chave de braço (só eu e os bandidos que aparecem no programa do Datena sabemos o quanto isso dói) e foi me arrastando na frente de inúmeras pessoas, e eu gritando de dor e de indignação total e absoluta: EU NÃO SOU BANDIDA, EU SOU PROFESSORA! O guardinha, surdo ao meu apelo, me enfiou dentro de um quarto e me empurrou brutalmente para uma cama, hora em que eu bati meu joelho que ficou roxo por dias, bem como meu pulso ficou com a marca do seu dedo. Estarrecida eu fui amarrada na cama de ferro pelos pés e pernas, método há muito tempo abolido pela medicina. Aplicaram-me uma injeção de placebo provavelmente, pois não fez efeito nenhum, ainda estou esperando as cópias dos prontuários para saber o que foi.

E ali fiquei chorando como uma criança, chamando minha mãe. Três horas me debatendo, tentando escapar das amarras, e a ambulância chegou. Foram trinta dias de internamento desta vez. Saí às vésperas do Natal. Separei-me após 26 anos de casamento e agora espero poder reescrever minha vida com tudo que aprendi neste ingrato ano de 2013.